Bianchi Ocelot MTB Fixa (pinhão Surly Dingle 21x17 e a altura do mov.central é 29cm)

quarta-feira, 30 de março de 2011

A Conversão de uma MTB Peugeot em Fixa com Rodas 700c (Estrada)

A principal motivação para isso é que um quadro de MTB antigo oferece,: um movimento central mais alto que um quadro de pista ou speed, uma gancheira horizontal (as vezes) e também uma robustez inigualável em comparação com outras opções de conversão para fixa ou em relação a um quadro de pista original. Além disso, com rodas 700c oferece uma geometria que você só obtém se mandar fazer um quadro, mas a um custo altíssimo.

Essa Peugeot Tim Gould tem uma distancia do movimento central ao solo de 32,5cm, que é superior a de um quadro de pista, equipada com rodas 700c e com pneus 700x25. Ter um movimento central mais alto permite o ciclista enfrentar os obstáculos urbanos nessas trilhas que a prefeitura chama de ruas (lombadas, guias, buracos etc.) com mais tranqüilidade, com menos risco de levar um tombo. Sendo um quadro de MTB mais robusto que de uma speed, consequentemente o peso é maior, neste caso 2,5 Kgs.

O quadro quando comprei estava em estado lastimável como pode ser visto na foto abaixo.

Estado Dela Quando Comprada


Esse quadro tem gancheiras horizontais originais – o que é raridade; 99,99% dos quadros de MTB fabricados no exterior são com gancheiras verticais, o que dificulta o tensionamento da corrente, aspecto crucial em uma bike fixa.

Entretanto no mercado brasileiro existem muitas MTBs, mais simples mas com pedivela monobloco, que tem gancheiras horizontais. Por outro lado, pedivelas monobloco não são muito adequados para uma bike com pinhão fixo, dada a força imprimida numa fixa, ocorrem folgas, quebra de eixo etc. Existe uma alternativa barata para solucionar o problemas do pedivela/MC monobloco,que é inserir/soldar um tubo liso ("embuchar") dentro da caixa do movimento central atual, para que seja possivel colocar um movimento central salva-quadros. Esse processo está mais ou menos descrito no seguinte link: Como Montar uma Bike Fixa de Baixo Custo.

A melhor opção é encontrar uma MTB que use movimento central selado (tipo da Shimano). Existe também a opção de soldar na caixa do movimento central monobloco um tubo que tenha rosca no qual possa ser rosqueado um movimento central selado, vide última frase do paragrafo anterior.

A principal dificuldade ou desafio na transformação de uma MTB em fixa, ocorre em compatibilizar a linha da corrente com tamanho do eixo do movimento central e com o pedivela de modo que este não roce no “chainstay”.

Porque isso ocorre? A causa é que a largura entre os dois "chainstays" de um quadro de MTB é maior que de um quadro de speed, por conta que na MTB os pneus usados são mais largos. Além disso, a MTB utiliza pedivelas triplos cuja curvatura dos braços dos pedivelas é maior que o pedivela de speed. Na MTB o pedivela acompanha a curvatura do “chainstay”, assim ele não roça nele.

Uma das soluções para esse problema é utilizar um pedivela de MTB que tenha sido eliminado o suporte da terceira coroa (a menor das três), caso ele roce o “chainstay”.

Nesta Peugeot MTB, um pedivela que ficou ótimo foi um Dura Ace modelo FC-7410 que tem uma curvatura similar a um de MTB, pois ele usa um eixo de movimento central super-curto – 103mm (código do MC:BB-7410), ou seja, ele não roçava no “chainstay”. Na montagem final foi utilizado um pedivela Shimano Exage 300, do qual foram eliminados (torneados) os suportes para terceira coroa (a menor das três), mesmo assim o braço esquerdo do pedivela roçava o “chainstay”. O processo utilizado para eliminar o suporte da 3a. coroa no pedivela,  está descrito no seguinte post / link: Como Converter Pedivela Triplos de MTB em Pedivela para Bike Fixa .

Entretanto, os demais pedivelas testados, todos de speed, roçavam o “chainstay”, mesmo usando um movimento central Chin Haur com eixo curto de 107mm. Por outro lado, os movimento centrais de MTB tem 118mm ou 122mm ou são maiores ainda, o que os torna inviáveis pois a linha da corrente vai ficar péssima, pois a coroa iria ficar muito afastada do quadro;e se a linha da corrente não está adequada, a corrente pode pular e cair/desengrenar e isso pode causar um tombo feio e provavelmente danificar a bike . A solução foi prensar o “chainstay”, aonde a ponta do braço do pedivela batia no “chainstay”.

Chainstay Esquerdo Prensado (antes da pintura)
Detalhe Chainstay Prensado (bike pronta)
Altura do Mov. Central e Detalhe do Braço do Pedivela

Outro aspecto a considerar é o garfo a ser usado, no caso de se optar por rodas 700c. Existem as seguintes alternativas e suas implicações, a saber:

1)    garfo original de MTB: As rodas 700c cabem nele, mas é preciso utilizar um freio de speed com alcance longo do tipo Tektro R556, com alcance de 55mm à 73mm; e é melhor eliminar os suportes para V-Brake, pois são desnecessários. Ou ainda, reposicionar os suportes de V-Brake para aros 700c, mas isso implica em gastos com o “framebuilder”; ou utilizar um adaptador da MAVIC que reposiciona o V-Brake para brecar uma roda 700c (speed).

2)    garfo de speed: Rodas OK, freios OK; porém isso afeta a geometria da bike, dado que a distancia entre o eixo do cubo dianteiro até aonde vai a pista do garfo é menor do que um garfo de MTB; isso resulta em uma frente mais baixa e uma mudança do ângulo do tubo frontal e isso pode afetar o manejo (“handling”) da bicicleta. A solução consiste em extender o tubo frontal na parte debaixo dele uns 20mm de modo que isso compense o fato desse garfo ser menor que um de MTB.

3)    garfo de hibrida: Essa é a melhor solução, e que foi adotada, pois tem altura similar à um garfo de MTB, assim a geometria da bike não é alterada, e que já possuem suporte para freios V-Brake posicionados para roda 700c. E, pode-se utilizar pneus mais largos sem problemas tipo 700x32 ou 700x38. O único inconveniente é que são difíceis de achar no mercado local.


Optei por extender o tubo frontal (foi inserido uma peça feita por um torneiro com tubo sem costura, a qual foi soldada com solda MIG) de modo que o posicionamento para pedalar nas ruas congestionadas ficasse mais confortável e também em termos estéticos, de modo que usei poucos espaçadores  na caixa de direção. Ressalte-se que em geral, o tubo frontal de MTB é menor do que um de quadro de estrada. E que essa alteração efetuada no tubo frontal não é essencial.

O cubo traseiro utilizado foi  um cubo de disco dianteiro Shimano Deore (HB-M525), no qual foi trocado o eixo original de 100mm (frontal) por um eixo sólido traseiro com 174mm de comprimento e foram acrescentados 30 mm de espaçadores. O processo de re-espaçamento desse cubo está descrito no seguinte post / link: Como Converter Cubo de Disco em Cubo de Fixa.

Quanto aos demais aspectos, a bike não sofreu nenhuma transformação, exceto que foram eliminados todos os “braze ons” para conduites de cabo de freio traseiro, cabos para os cambios, e o suporte para parafusar o cambio traseiro.

Caso esse quadro tivesse uma gancheira vertical, seria necessário trocá-lo por uma de pista (horizontal) ou adotar outros procedimentos tais como: “magic gear” ou utilizar um cubo ecentrico Eno (da White Industries) que permite o tensionamento da corrente mesmo usando uma gancheira vertical. Porém os demais procedimentos descritos aplicam-se igualmente.

Neste paragrafo vamos sumarizar as peças essenciais, que são inerentes a uma bicicleta fixa e que foram utilizadas nessa conversão:

- O cubo de disco foi convertido em cubo fixo, o eixo original foi trocado por um de 174mm compativel com o espaço entre gancheiras de 130mm, e foram acrescentados 30mm de espaçadores. 

- O pinhão de cargueira (18 dentes) comum para encaixe foi furado e ele tem 1/8" de espessura e portanto requer corrente grossa.

- O movimento central Chin Haur tem eixo curto de 107mm, com rosca inglesa (1.37" x 24 TPI), para ter uma boa linha de corrente.

- O pedivela Shimano Exage 300 de MTB com 170mm (curto, é mais adequado para pedalar nas ruas)  e furação de 110mm BCD foi convertido para fixa, eliminando-se o suporte para terceira coroa. Foi utilizada uma coroa de aço daquelas que vinha em pedivelas triplo nos anos 80 e 90; e ela tem 48 dentes. A relação coroa x pinhão ficou em 2,66 (=48/18) que corresponde a um "gear ratio" de  71,0 , que é confortável para pedalar a beira-mar , onde o terreno é, geralmente, plano.

- A corrente utilizada é uma KMC High Value, grossa, ou seja com 1/8", que tem uma boa relação custo/beneficio.

- O firma-pé é um comum de plástico/resina com correias de nylon da Wellgo.

- As demais peças necessárias são componentes normais que habitualmente equipam bicicletas de speed/estrada e MTBs, e que é desnecessário comentar alguma caracteristica. O guidão riser de MTB foi cortado e ficou com comprimento de 50cm.


- A relação completa dos componentes utilizados na montagem estão neste post: Bike Check: Peugeot MTB FIXA da Nanda.

É importante enfatizar que todos os componentes utilizados na montagem dessa bike fixa, podem ser transferidos e montados em um quadro de Caloi 10 com um garfo de speed (aro 700c), ou em um outro quadro qualquer de speed que tenha gancheiras horizontais e MC com rosca inglesa (1.37" x 24 TPI), exceto o canote do selim, pois o diametro varia de quadro para quadro.  Além disso,  não será necessário prensar o "chainstay" como foi feito com a Peugeot, dado que a largura entre os "chainstays" da Caloi 10 ou de um quadro de speed é menor do que a da Peugeot MTB.

Resumindo, abordamos neste texto as principais dificuldades encontradas, em um caso real, na conversão de uma MTB em fixa para uso urbano. No outro post sobre o assunto são dados alguns outros detalhes, aqui: A Conversão de MTB de Aço / Cromoly em Fixa com Rodas 700c (speed).  e também na postagem: Como Montar uma Bike Fixa de Baixo Custo. 


Peugeot MTB Fixa com garfo de estrada - Rodas 700c (*)
Peugeot MTB Fixa PRONTA - com Garfo de Hibrida/ Touring


by MarchaFixa 

(*) Obs.: Nessa foto ela estava montada com um garfo de estrada, pois ainda não tinha chegado o garfo de hibrida.

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